Eu preciso falar um pouco sobre o meu amor, sobre a desordem ordenada que rege meu coração.
'Tô sempre a espreita, esperando a chuva que não vem, a morte que não chega. Mas pra chuva já inventaram previsão, pra morte não.
Um livro velho aberto na cabeceira de uma cama, uma luminária de luz baixa, quente, um cheiro de mofo. Eu sei que isso tudo parece inconveniente demais, mas ali, naquele estado pútrido, o amor ainda pulsa.
Não sei se me faço entender pela analogia, ou pelo relógio mal marcado, ou pela risada frenética, um tanto ridícula, bordada porcamente por desespero.
Falar sobre o amor não me remete à uma carta de amor, não, são coisas bem diferentes. Carta de amor é quando a gente embala com papel de presente. É tão amor quanto, mas não é cru, é cristalizado. O que se cristaliza não apodrece, e apesar do sol em libra, me apetece a submersão do que é decomposição - deve ser a lua na casa doze.
Eu sou enlouquecida, e não é pelo empilhamento de diagnósticos, é pelo que faço de mim segundo a segundo. Só fica por aqui quem se deixa contaminar um pouco, ao menos. Ficar por aqui é trabalho árduo, e modéstia a parte, imensamente lindo.
Eu vejo beleza na loucura apesar do cansaço. Olhos enlouquecidos são olhos cheios. E eu sou cheia, redonda, e um tanto catastrófica.
Pra falar de amor, eu preciso olhar pro céu e pro asfalto, o meu amor também se constrói no concreto. O mar faz do amor imensidão, mas na metrópole ele se dispõe num misto de prazer e agonia.
Acho que meu corpo é mal moldado pela quantidade de vezes que me desfaço e me refaço, porque tem hora que é preciso fazer caber.
A minha ideia inicial era que minhas palavras vomitadas pelos dedos tivessem destinatário. Me perdi dentro da minha cabeça, nos labirintos intermináveis, nos acúmulos, na euforia que me acomete de tempos em tempos, na distorção, na solidão inflada do meu ego catastrófico.
Mas que o início, então, se concretize no fim, e que os meios sejam apenas os meios.
Meu amor fresco tem nome, dor e um sorriso que me desarma e me cala a inquietude. Nas tuas curvas eu me encaixo como se dali eu tivesse saído num desencaixe impróprio. Tuas coordenadas se mostram em auto relevo latitudinal, e na busca incessante pela simetria ela se faz assimétrica dos pés a cabeça, nos cabelos que não controla, nos pelos que brotam sem pedir licença, nas pintas que se desenham sobre sua pele, nos lábios que me sorriem um pouco mais pra lá, outrora pra cá, no caos d'alma que se desencontra no vaguear torto do amargo e da docilidade.
E aí eu amo, sem esse vocabulário vasto, sem esse acúmulo de pensamentos frágeis, eu só e tão só, amo.
Amo seus dedos que se movimentam de um jeito desajeitado e amável, amo o cheiro que vem e me inunda quando me aproximo, amo a confusão e a fusão tão desordenada que nos toma num gole só.
Amo o teu amor de doses homeopáticas casado com o meu amor em doses cavalares. Amo teu som e teus retratos, amo teus olhos imensos na tua profundidade, e quero me perder neles.
É que eu acredito mais na vida quando me entrelaço em você, e me perdoe se há rastros de passionalidade, mas meus olhos reconstroem o caminho quando fixam os teus.
E os teus, tão teus, e os meus, tão meus, e os nossos, tão incalculáveis.
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Falar de amor
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Derrame
As lágrimas eu derramei ontem a noite
O café quente derramei hoje de manhã
E já não sei definir qual queimou mais.
O café quente derramei hoje de manhã
E já não sei definir qual queimou mais.
domingo, 27 de novembro de 2016
O silêncio
O teu silêncio é quase cômico
Mas não me arranca um sorriso
Silencia a boca e engasga a mente
É indigesto e quase cáustico
O lustre balança sobre a cabeça
E o olhar só vagueia, nada vê
Que você fez do nosso nós em você?
Que aqui tá escorrendo a seco
Desce rasgando, calando a alma
O teu silêncio não é ausência
É avalanche que leva tudo de mim
Poderia ser cômico mas é caos.
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Eu dancei com ela
Eu dancei com ela
Num misto de furor e calmaria
Como quem balança numa rede de varanda.
Ela sempre diz que não sabe dançar
Mas vem comigo num ritmo doce quando eu a abraço,
É que o amor move a alma que se contem no corpo.
Quando ela dança comigo minh'alma se acalma,
É dose inebriante de alivio pr'essa dor caustica.
Meus braços envolvendo-a em toda sua extensão,
Meu rosto colado no dela sem medo ou precaução,
Ela sorri que me arrepia toda a pele,
Que amor é vibração indomável
Como as águas d'uma correnteza.
E como não ver beleza nos lábios que se fundem
Como quem mata a sede na nascente?
E eu dancei com ela,
Nos seus passos bagunçados pela timidez,
Na docilidade do encontro de nossos mundos,
No sopro vívido do nosso reconhecimento,
No manto mágico dos nossos olhos famintos:
Distintos, disformes, destoados
E fomos o sumo desnudo do que nos emerge aos poros,
No suor que liquidifica o desejo,
E me mexo como os fluidos que escorrem pelas pernas
E evaporam subindo invisíveis e indivisíveis, aos céus.
Num misto de furor e calmaria
Como quem balança numa rede de varanda.
Ela sempre diz que não sabe dançar
Mas vem comigo num ritmo doce quando eu a abraço,
É que o amor move a alma que se contem no corpo.
Quando ela dança comigo minh'alma se acalma,
É dose inebriante de alivio pr'essa dor caustica.
Meus braços envolvendo-a em toda sua extensão,
Meu rosto colado no dela sem medo ou precaução,
Ela sorri que me arrepia toda a pele,
Que amor é vibração indomável
Como as águas d'uma correnteza.
E como não ver beleza nos lábios que se fundem
Como quem mata a sede na nascente?
E eu dancei com ela,
Nos seus passos bagunçados pela timidez,
Na docilidade do encontro de nossos mundos,
No sopro vívido do nosso reconhecimento,
No manto mágico dos nossos olhos famintos:
Distintos, disformes, destoados
E fomos o sumo desnudo do que nos emerge aos poros,
No suor que liquidifica o desejo,
E me mexo como os fluidos que escorrem pelas pernas
E evaporam subindo invisíveis e indivisíveis, aos céus.
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