quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Filtro...só de café
Seus olhos viciantes são minha paisagem,
que eu não consigo enxergar em dias de chuva.
Tudo fica turvo e melancólico, bem como costuma ser na minha cabeça.
As lágrimas são como a chuva de verão que desaba levando o silêncio embora...
As palavras dela roubam as minhas e por mais que eu tente, não consigo pegá-las de volta num beijo.
Minha melhor amiga, agora é a fumaça, não importa de onde ela vem, eu só vivo com ela.
O líquido preto que me mantém viva por dias de noite em claro, são filtrados com as tuas lembranças.
E eu já esqueci como é levantar o peso das minhas bochechas para conseguir abrir um sorriso...
O peso dos meus passos, eu já me acostumei a carregar. Pois são os únicos que eu ainda tenho coragem de enfrentar."
Lana Lopes
sábado, 20 de agosto de 2016
Desordem
Eu danço com toda minha alma,
Alma essa que dançou com a tua na noite anterior.
Eu tomo a noite com todo seu vapor, engulo toda fumaça de cigarro e do motor a óleo diesel.
Olho pra você e desfaço o laço com as mãos no ar.
Minha perversidade é meu maior amor,
Meus pés latejam e eu danço, eu danço...
Peço para que esses fantasmas em desordem a minha volta me deixem ouvir minha própria cabeça.
Na busca dos teus olhos eu entro num labirinto disforme e te peço pra ficar - Fica?
Eu sinto medo de mim mesma,
Me deparo com a chuva espessa, um mar de concreto e bueiros, imensos.
Preciso parar! É hora de parar!
Tem relógio que para e olhos que não reconhecem a desordem do tempo.
Não me despedir é minha maior expressão desse amor que quase senti,
Dessa extensa pele que quase arrepiou
Desses olhos que você quase levou.
Eu sou vulcão em erupção constante,
Minhas lágrimas e minha saliva queimam,
E meu jardim primaveril está tomado de erva daninha, meu bem.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Lua Seca
Tem noite que ela cai seca aos meus pés
Se era iluminada agora é seca e fosca
Tem olhos que tem olhar que te invoca
Até que esses olhos se esvaziam e se perdem
Tem noite de lua cheia que puxa a maré
Tem maré que avança e te devolve esgoto
Tem beijo que alimenta o limiar da alma
Tem outro que te suga até as lágrimas
E fica tudo sem dizeres, é só amargor
E o sentimento do mundo se dilui na
Chuva ácida que você tanto desgosta
E ele escorre ínfimo -cru- bueiro abaixo...
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Arisco
A madrugada se estende
Você ainda está em mim
Canto pro teu sono ser ninado
Faço pintura a dedo com orvalho
As gotas d'agua da manhã fria
O suor da xícara de café quente
O sol nasce devagar aqui
Quase rasteja como teus pés
A árvore de galhos secos não se move
Tudo caótico e em seu devido lugar
Tua alma é pássaro arisco, indomável
Meus olhos, que hora se perdem atoa
Não acharam outro rumo que não os teus
Minhas mãos mapeiam seu corpo
Teu corpo me ensina os caminhos
Que tuas palavras não me levam
Ouso dizer que estiver imersa em ti
Que o tempo caminhou veloz por nós
Feito sob medida pra não ser descoberto
Eu quase acreditei ser melhor sem você
Eu quase desejei não ter cedido à nós
Eu quase desfiz o nosso laço de fita
Num ato de covardia deixei pra depois
Escondi debaixo da cama as certezas
Dissolvi com ácido o que era absoluto
A perplexidade da fluidez em partículas
Foi meu alimento e comeu meu fígado
...
Dois dias depois do poema interminável
Eu desalinho as reticências
Eu sou pássaro indomável, arisco.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
A jaqueta jeans
Tua jaqueta jeans tão maior que você, do tamanho dos seus sonhos.
O tênis vermelho, surrado.
O cigarro entre os lábios de tão pouca idade.
Te vi ali, sozinha, em meio a multidão, encostada no muro, com o olhar perdido, talvez a procura do meu.
Propositalmente, demorei alguns minutos pra me aproximar apesar do desejo crescente de te beijar. É que eu queria te olhar mais um pouco, gravar aquela imagem em mim como uma fotografia, saborear cada movimento, toda a insustentabilidade da beleza que se sobrepunha ao meu desejo de correr pros teus braços.
Hoje se mantém as memórias quase gustativas, e a gravura em cores saturadas, talvez um pouco desbotada nas extremidades.
No meu corpo você ainda faz sentido por alguns instantes perdidos no espaço, até que eu abro meus olhos e você escorre, escorre pelo meu rosto, escorre por entre meus dedos, escorre por minhas pernas.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Distensão
Luz solar
Solidificação
É pouco
É troco picado
É sopro contido
São noites viradas
Do avesso
Do fundo da gaveta
Luz lunar
Lamificação
Pés molhados
Lâmina afiada
Choro engolido
Sonhos cruzados
O lado errado
O delírio sendo ao lado
O lírio
O colírio
O sorriso amarelado
Areia no sapato
Garganta fechada
Sem ar, sem lar
Distração
Disritmia
Luz solar, luz solar
Luz lunar, luz lunar
O solo arado, cansado
A árvore seca que flutua
No mar, no mar, no ar.