segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Arisco

A madrugada se estende
Você ainda está em mim
Canto pro teu sono ser ninado
Faço pintura a dedo com orvalho
As gotas d'agua da manhã fria
O suor da xícara de café quente
O sol nasce devagar aqui
Quase rasteja como teus pés
A árvore de galhos secos não se move
Tudo caótico e em seu devido lugar
Tua alma é pássaro arisco, indomável
Meus olhos, que hora se perdem atoa
Não acharam outro rumo que não os teus
Minhas mãos mapeiam seu corpo
Teu corpo me ensina os caminhos
Que tuas palavras não me levam
Ouso dizer que estiver imersa em ti
Que o tempo caminhou veloz por nós
Feito sob medida pra não ser descoberto
Eu quase acreditei ser melhor sem você
Eu quase desejei não ter cedido à nós
Eu quase desfiz o nosso laço de fita
Num ato de covardia deixei pra depois
Escondi debaixo da cama as certezas
Dissolvi com ácido o que era absoluto
A perplexidade da fluidez em partículas
Foi meu alimento e comeu meu fígado
...

Dois dias depois do poema interminável
Eu desalinho as reticências
Eu sou pássaro indomável, arisco.

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