quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Roda gigante

A gente falou poucas vezes sobre o depois. Lembro da primeira vez que balbucilhamos algo do tipo; eu deitada na sua cama, ambas olhavamos pro teto, o remédio já corria em minhas veias, o teto parecia alto demais e acho que as palavras só causaram mais transtorno quando falamos, bem mais pra frente, sobre a nossa casa. ''A palavra namoro é pesada demais pra você?'' Sei que era, sei que era novo e grande demais, mas não lembro das tuas palavras. A sensação de conforto que me trazia quando eu dormia contigo era o suficiente pra acreditar em tudo que nos rodeava. Assim como o medo, my dear. Suas mãos me buscando no cair da madrugada, meus olhos delineando sua silhueta nas noites de insônia, meu amor transbordando, escorrendo por minhas coxas.
Se tem algo que nunca sairá das minha corrente sanguínea além das toxinas farmacológicas é o amor que sinto por você, e que talvez um dia eu conjugarei no passado.
Eu tenho inúmeras lembranças da avenida paulista, meu primeiro amor se fez nos bares por aqui. A riqueza calculada em bilhões, os turistas mal informados - aliás, quem pode querer conhecer São Paulo? - num andar deslumbrado a fotografar tudo, como um cartão postal.
Fazia frio quando te vi pela primeira vez, a fumaça que saia da sua boca instigante não era só da baixa temperatura, e ainda não é, e olha que estamos vivendo o carnaval dos trópicos. Fevereiro, honey, fevereiro.
Me agrada a sonoridade dos carinhos em inglês: talvez, dialogando com o poema da poeta portuguesa, seja mais fácil qualquer coisa numa língua estrangeira.
Minha cabeça não está um turbilhão como eu sempre digo, agora é quebra-mar, bate com força nas pedras porque tem que ser, porque assim é, porque sim e ponto. Os respingos d'água salgada é alivio pros pés que até então queimavam no asfalto.
Ah, como eu odeio o asfalto! Como eu odeio essa sensação da despedida escolhida. Como me irrita minha coleção de indagações, não duvido que à você também.
Eu sinto fome, e não é de comida, e não é de doce, não é de corpo, não é de mãos, nem de pão na chapa do café da manhã...Eu sinto fome de mim.
Busco incessantemente por mim e não lembro onde me perdi, a verdade é que quis crer que me encontraria nos teus olhos castanhos, escrever que não me encontrei neles ou em qualquer outro é continuar, e já sinto minhas pernas tão cansada.
Eu queria olhar a cidade contigo numa roda gigante. Quando a dor passar, você vem comigo?

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