domingo, 18 de setembro de 2016

Nascente

A sentença morre nela mesma, se desfaz por si só.
Eu recuso as lembranças mas elas invadem, é incrível como elas vem dançantes e eu não as quero assim.
Vem o cheiro da sua casa, as árvores da sua rua, as tantas vezes que andei pela sua rua ao teu lado procurando respostas por me sentir tão feliz e inflada como um balão.
Teve noite que veio o frio, e manhãs de sol bonito que tomamos café fresco sentadas na mureta da garagem, com o primeiro cigarro do dia, entre os dedos.
Vem o som da tua voz pedindo pra que eu não lave a louça, não arrume a mesa, não varra o chão, que eu só não faça nada, e eu perdida no morno do teu olhar, só conseguia sorrir e pensar no quão bonitos são seus traços.
Meu sorriso queria romper por minhas bochechas, e mesmo nas noites mal dormidas, acordar do teu lado era como acalmar a desordem que está sempre em ebulição. O meu mundo se acalma, respira lento, com o diafragma, como o ranger vagaroso das janelas movidas pelas brisas das tardes de verão.
Saudade, quando vem, arrebenta o peito, e me carrega correnteza abaixo, dessa vez não deu tempo de me agarrar em nada, desaguei num choro soluçado, descompensado.
As lembranças, elas se multiplicam quando falo delas, acumulamos em tão pouco tempo páginas e páginas de cenas lindas, movidas por contemplação e toques sublimes. As vezes quando eu fecho meus olhos eu ainda consigo sentir você por perto, seu coração sincronizado ao meu, e toda aquela minha vontade incessante de te arrancar do peito toda a dor que te consome, seus demônios. Mas você precisa deles, o é mesmo? Precisa encontrá-los, tete-a-tete, entrar na mata ainda não desbravada. Ser etinerante dentro do seu desconhecido.
E eu preciso sair por aí, caminhar com a mochila nas costas, deixar o passado passar, se dissolver feito poeira da estrada de barro seco, ainda que tudo aqui seja úmido.
O barulho da chuva, os sinos da igreja do centro da cidade, as ruas da cidade e seus corpos desovados a cada esquina, tudo tão arraigado ao concreto.
Enquanto tudo que eu preciso é aprender a distinguir o soluço da solução.
Descobrir onde mora a nascente dessas águas que deságuam em mim.

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