Hoje eu não queria pensar na dor mas eu vi o céu em chamas e o que vinha mesmo era um pé d'água.
Havia fogo ali, atrás dos prédio. Minha alma, hoje tão calma, pegava fogo e ele se alastrou por tudo a minha volta.
Hoje eu caminhei pelos mesmos caminhos de sempre e puxei minha mente de volta quando ela quis voar até você : "manejo, Rafaela, manejo de pensamentos"
É tão difícil desviar de você, não tropeçar nas nossas lembranças é um trabalho árduo, diário. Afinal, deixavamos tudo jogado pela casa.
Peguei a encomenda que você deixou pra mim, estava lá, toda embalada de indiferença e um pouco de amor, talvez. Campilho vai me fazer bem nos caminhos atordoados da metrópole.
Ah, eu que sempre fiquei tão enlouquecida quando você dizia pra que nós saíssemos da cidade, hoje faria muito pra ir embora daqui, pra ter os pés descalços na terra molhada e um céu estrelado, bem clichê mesmo.
Essa concretude me adoece, dia após dia.
Eu ouço repetidas vezes a mesma canção, eu tomo todas as noites o mesmo remédio, eu sinto a mesma dor.
Mas hoje eu não queria pensar na dor... Já pensei, lembrei da Nina, a gata. Eu lembro dela andando por aqui, suas patinhas gordas e seu focinho molhado, sempre tão companheira, sempre me dizendo com sua linguagem felina que o mundo, ah, o mundo é sempre desastre e milagre simultâneo. A Nina morreu embaixo do sofá, o nosso sofá, a nossa Nina, o nosso amor...Tudo tão nosso e tão distante de ser qualquer coisa.
Que bom que muita coisa passou, que bom que não dilacera como antes a distancia de nossos corpos, ainda até penso nos pés embaixo do edredom, ainda penso em muita coisa, vez ou outra ainda choro como se fosse a primeira semana. Se consolidou três anos, três fodidos anos desde que eu fui embora de casa, meu amor. Você ainda vacila e me chama de amor, ou de bê...me corta a alma em pedacinho quando você se redime no mesmo instante, é como se fosse errado me amar...e talvez seja.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
Reflexões da boa dor
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