domingo, 16 de abril de 2017

Constelações de poeira

eu achei que eu iria precisar falar contigo, e o que eu preciso é escrever poesia,engasgar com a poesia que você não ouviu, tropeçar na poesia que está amarrada no meu tornozelo,me perder na poesia que eu desenhei em cima das coordenadas do meu mapa natal.
Que enquanto você trazia a tona por meus olhos aquelas águas salgadas eu deitava minha cabeça no colo da mãe de águas doce.
Afago é o entrelaço dos dedos, seja nos outros dedos, seja nos fios de cabelo.
Eu preciso do eco da poesia, microfonada, porque não? 
No salão quase esvaziado, os olhos cerrados e o peito inflado. 
Alguém precisa ouvir das costuras que incomodam no jeans, alguém precisa ouvir sobre a inflamação dos tendões ou sobre a privatização dos sonhos cativos.
Eu achei que eu precisava te explicar sobre a sensação da lâmina rasgando a pele, e da anestesia da massa encefálica (é possível?).Eu preciso cantar poesia, suar poesia,despoetizar a poesia, germinar, fermentar, deixar mofar, criar vida podre e suspender tudo no eco do vão do mundo,na fenda por onde entra a solidão e os feixes de luz. Era poeira, mas eu vi constelações. E nada disso é sobre amor, nem sobre dor.

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