O amor me roubou quase tudo, me rasgou as
roupas, me arrancou os sapatos, me deixou ressecada, perdi minha
identidade, perdi o caminho pra casa.
Não tenho mais medo, me contento com o suor frio na pele quente e a
sensação quase constante de expurgar minhas toxinas.
Perdi meu olhar por aí, em algum pôr ou nascer do sol, em algum gatinho
assustado nas ruas, em alguma copa de árvore recheada de flores
coloridas, em algum sorriso que as bochechas fecham os olhos. Eu perdi e
por aí ficou.
Carrego olhos vazios, córnea, pupilas, globo, cílios, veias, lágrimas,
tudo conectado, tudo em perfeito estado: enxergo, no vazio.
Aos vinte e cinco anos eu já não espero mais que uma avalanche me
carregue e mude meu rumo, não sou velha, não sou nova, sou parte de um
encaixe maior que não tem idade e que é tão pouco enquanto é quase,
quase tudo.
Minha percepção do todo se dá a partir de mim e isso faz com que nada
exista sem mim, mas se eu não existir a engrenagem continua a rodar. As
pessoas morrem, umas atrás das outras, tudo desaba e tudo se refaz. Não
há morbidez nisso, há mansidão. A vida é cíclica e o amor é uma
abstração que nos ajuda a manter o ritmo, ainda que esteja tudo tão
enferrujado.
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