segunda-feira, 18 de abril de 2016

O amor me roubou quase tudo, me rasgou as roupas, me arrancou os sapatos, me deixou ressecada, perdi minha identidade, perdi o caminho pra casa. Não tenho mais medo, me contento com o suor frio na pele quente e a sensação quase constante de expurgar minhas toxinas. Perdi meu olhar por aí, em algum pôr ou nascer do sol, em algum gatinho assustado nas ruas, em alguma copa de árvore recheada de flores coloridas, em algum sorriso que as bochechas fecham os olhos. Eu perdi e por aí ficou. Carrego olhos vazios, córnea, pupilas, globo, cílios, veias, lágrimas, tudo conectado, tudo em perfeito estado: enxergo, no vazio. Aos vinte e cinco anos eu já não espero mais que uma avalanche me carregue e mude meu rumo, não sou velha, não sou nova, sou parte de um encaixe maior que não tem idade e que é tão pouco enquanto é quase, quase tudo. Minha percepção do todo se dá a partir de mim e isso faz com que nada exista sem mim, mas se eu não existir a engrenagem continua a rodar. As pessoas morrem, umas atrás das outras, tudo desaba e tudo se refaz. Não há morbidez nisso, há mansidão. A vida é cíclica e o amor é uma abstração que nos ajuda a manter o ritmo, ainda que esteja tudo tão enferrujado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário