terça-feira, 19 de abril de 2016

Você sabe que ela vai voltar e preterir e destruir tudo a nossa volta. Pé por pé, sorrateiramente. E os cacos que voam para o teto tem a ver com aquela cadeira que ela não quebrou nas costas dele, e com aquele amor que queimou ela por dentro e que  deixou incendiar como uma labareda que ilumina um vilarejo inteiro. Ela iluminou tudo aqui e agora não sei viver na escuridão mesmo sabendo que na escuridão eu ouço melhor todos os meus ruídos e os gritos abafados no peito.
Agora eu te escrevo com o cigarro entre os  dedos da mão esquerda e alucinógenos na cabeça. Essa cabeça sozinha, delicada e tão perturbada que ela insistia em ninar.
Eu não consigo gostar do odor da nicotina mas é só e tanta solidão que ela me enviou naquela carta de ausência e silêncio.
O tempo está se perdendo no meu coração e outra garota chegou e parou os ponteiros do relógio, agora eles vão num ritmo único rumo a lugar nenhum. Eu não quero rotas e destinos, não me agrada mais os pés cansados de tanto te procurar, já me basta a cabeça que não para de girar. Eu sinto amor no chá de gengibre com canela, no canteiro de plantinhas que não existe ainda, nas luzes coloridas que se multiplicam no teto da sala, a sala que é a minha casa e a dela, a casa que sou eu e que é ela.
Na loucura que a gente compartilha e corrompe, e traz pra dentro de toda a nossa imensidão.
Eu descobri um mundo sem você e sou um desabrochar constante de inconstâncias e insanidades. Eu quero assim. Eu quero assassinar minha etiqueta, meus pesares, já me basta meu peso e medidas.
Eu sou sólida, líquida e escorro pelo gozo entre minhas pernas peludas. E os pelos me acalmam, me aquecem e me  mantém intacta, contactada comigo e com elas.
A casa que é minha, que é dela, e que agora é brisa calma, é mansidão e emancipação das nossas tragédias.

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