Mas ao mesmo tempo eu não quero ser isso na sua vida, eu te amo demais pra ser opção de uma escolha tão dolorosa e amarga. Não acredito mais em nós, não acredito mais que temos um 'alguma coisa' que transcende ou que é melhor do que outros 'algumas coisas', mas eu queria acreditar e essa angustia de viver entre o que eu ainda tenho de nós e o que eu perdi pelo caminho é algo que eu não quero mais.
Fui embora fugida, não aguentava mais fixar meu olhar no teu enquanto você me dizia o quanto está desesperada pra ficar com outra pessoa, o quanto não quer que essa pessoa vá embora ( mesmo sabendo o mal que essa relação causa pra ambos) mesmo que isso signifique que eu vá, ainda que eu já esteja tão fora e anulada da sua vida. Você me remeteu a mim mesma implorando pra você me deixar ficar, jogada no chão, desamparada, com todas as minhas feridas abertas, agarradas aos teus pés enquanto nada te comovia. Sinto dor quando lembro de mim naquela situação ( ainda que ela seja em parte metafórica), sinto dor de vê-la nessa, tão parecida, situação. Não posso admitir que fique nas mãos de uma pessoa que mal conhecemos a decisão sobre o que fazer com a vivência e o sentimento mais bonito e profundo que já experimentei, não admito fazer isso com a garota tão viva de 17 anos e cabelos laranja que se apaixonou num parque verde, não posso deixar que a coragem da quase mulher de 21 que se casou, vestiu-se de um branco meio bege, fez de uma casa um lar mesmo tão nova, tão boba, tão cheia de dores, seja tão descartável. Não posso deixar que a minha história seja envolvida numa atmosfera tão doentia e violenta. A escolha vai ser minha, mais uma vez.
Imagino hoje, com um pouco mais de precisão a dor que deve ter sido pra você perder, de quando em quando, o contato com sua mãe, não saber se está viva e sempre dormir e acorda esperando as piores notícias. Eu fico assim hoje. Fico na esperança, doce e crua esperança de que você está bem em algum lugar, ainda que não atenda minhas ligações, que não responda minhas mensagens, que não vá trabalhar, ainda que meu coração esteja tão apertado. Isso não é uma brincadeira, isso é real. Isso que é tão nebuloso pra mim, que me amedronta, que me tira noites de sono, que me tira as lágrimas mais cortantes, isso que é ver o meu amor escorrer pelo ralo.
Eu preciso ir embora de você, preciso que você vá embora de mim. E isso vai muito além de físico, de não ter contato, de sumir. Eu preciso parar com isso, aceitar suas escolhas sem me colocar a mercê delas, aceitar a raiva que eu sinto por suas escolhas, aceitar a magoa que está me definhando por dentro, aceitar que você está sendo negligente e egoísta com esse amor, com esse companheirismo, com essa casa que construímos tão duramente. Aceitar sua agência nisso tudo. Aceitar que apesar de toda confusão, de toda "doença", de todos os pormenores, você está sim escolhendo me tratar tão mal.
Baseei durante muito tempo o meu valor naquilo que você faz e acha de mim, é difícil não me achar um lixo, não me achar sem importância, ainda é muito difícil reconstruir isso, mas eu vou. ( Sempre digo que vou)Me dá um medo ver o tempo passando, as memórias se esvaindo, virando pó, esse pó que você não vai cheirar, e que eu não vou jogar na privada e dar descarga, esse pó se vai com a ventania que recebe maio. E eu recebo tão mal essa frente fria, a temperatura que só cai e meu coração que amolece, meus dedos que não acompanham no teclado a velocidade do pensamento. Você diz que há uma pureza em mim resultado dessa honestidade que me persegue, essa lealdade aos meus princípios, deve ser coisa desses meus tantos capricórnios no mapa. Mas a verdade é que eu sou apegada e obcecada, eu me mantenho fixada aos meus planos e tudo passa, todo mundo passa e eu fico lá. Fiquei em nós, fiquei na sala, deitada no tapete peludo, olhando a parede mal pintada : meio verde, meio laranja. Tava tudo errado ali e ao mesmo tempo tão aconchegante. Me vejo ali, contemplativa enquanto os móveis vão saindo, enquanto tudo vai se esvaziando, as roupas vão embora, as cadeiras,os bichinhos, as comidas, o amor...Só ficamos eu, o tapete e a parede mal pintada.
Ainda penso no bebê que não tivemos, essa parte dói muito, meu amor. Choro quando lembro que ele não foi bem vindo entre nós e ao mesmo tempo eu agradeço por você não ter deixado ele ter vindo sem ser completamente querido, que não tenha deixado minha barriga crescer, mês a mês, semana a semana sem confiança, sem certeza.
Estou aqui, longe, falando um monte de coisas, misturando as memórias, as histórias, misturando eu e você.
Me dá um puta medo terminar essa conversa porque eu sei que eu não quero mais ficar te esperando, ficar desejando que você volte a sorrir comigo, que volte a me dar alguma importância. Preciso que acabe assim, com reticências...
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