terça-feira, 21 de junho de 2016

Condicional

Se eu pudesse eu te daria tudo que há em mim, assim, como alguém me deu um dia, há uma década atrás.
Mas não precisávamos pensar, o mundo era meu e o que não era ela me deu.
Meus cabelos alaranjados, minhas unhas mal pintadas, eu era como um tela pintada por uma criança de dez anos. Eu fui a bagunça que ela deixou entrar e revirar tudo. Ela sabia, melhor do que eu que o tempo passaria e que como passarinho eu voaria, quebraria minhas asas hora ou outra e voltaria ao ninho aos prantos. Tudo se revelou como previsto, porque se você confia no vento de olhos vendados, uma hora a ventania te derruba.
Hoje, ergo-me mais que o necessário para apenas caminhar, deparo-me com belos sorrisos, boas histórias e lindas garotas desfeitas e refeitas.
Você me veio como um susto, parece até que brotou do asfalto, como aquelas plantinhas que desafiam o concreto e a lógica e florescem em meio ao inexplicável. Eu olhei pra você, mais de uma vez, e pude sentir minha pele arrepiar como uma catarse, e desejei inúmeras vezes que você não desejasse estar comigo, que fosse apenas um jogo de olhares e sorrisos.
Mas você veio e sorriu pra mim, e num magnetismo sorrateiro não desconectei mais meus olhos de você aquela noite.
Me sinto adoecida quando deixo emergir sentimentos complexos por alguém, me dizem o tempo inteiro que há um transtorno, e eu não tenho como me desculpar pelo que eu sou, pelo que eu conheço de mim.
Eu sei que machuquei algumas garotas pelo caminho, que eu não soube ser doce e sensível como eu disse que seria, eu sei que sou um emaranhado, que confundo minhas dores com meus amores.
Se eu pudesse, eu seria seu porto-seguro, seu afago, seu amparo pras quedas que ainda virão. Mas a verdade é que eu não posso ser isso sem que eu fique seca depois. Me disseram que o amor nos rouba a concretude das boas coisas, das boas vindas, dos bons ventos.
Ela me pediu pra me apaixonar por um projeto e não por uma garota, pra escrever um livro, plantar uma árvore, respirar devagar, pois as paixões aos vinte e seis, na metrópole, são insustentáveis e cortantes.
Eu rasgo minha superfície para expurgar o sentimentalismo, eu tenho longos orgasmos para que os músculos contraídos me renovem a força da alma, eu intoxico meu organismo com quatro combinações alopáticas para frear os delírios, e os delírios eu compro líquido em papel colorido.
Eu estou apaixonada por ela, e honestamente eu não sei mais o que se faz com essa expressão.
O que posso dizer de mais reconfortante, é que eu sinto saudades de quando apaixonar-me era sentimento e não condição.

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