Os processos já foram muitos;
vesti o casado de lã que era da minha avó, na verdade eu nem tenho certeza se era dela.
não tive medo de acessar o que me fez urrar durante o orgasmo, eu só deixei emergir. Chorei num exorcismo honesto demais pra que qualquer pessoa pudesse ver.Pouco tempo, senti como se um líquido espesso saísse por meus poros. Doeu, mas foi. Talvez agora seja só atadura, não mais estanque. Gozei no chão da sala, orgasmos nem sempre são pra sentir prazer, às vezes é pra sentir o corpo expelindo sem que haja controle do que sai de dentro. Tudo se contrai e num descontrair abrupto pude ver minha alma sendo expurgada em partículas até o teto e voltando a me preencher naquilo que precisa ficar. Doeu, mas foi. As cartas do tarot dizem que você não vai entender o que eu digo, que sua mente está presa num vórtice de ilusão, então deixa ser ilusão, não acho que fui muito diferente quando nos criei em mim.
O problema são as lembranças, que apesar de eu sempre esquecer o que eu digo, nada me desliga do que é visual e tátil, desde tão novinha. ''Canta baixinho pra me ajudar a dormir'', no começo eram sussurros tão pouco audíveis, pouco a pouco eu fui ouvindo cada variação da tua voz, até me acostumei com seu medo de imperfeição no cantar de ninar que te fazia recompor a voz como quem canta pra um teste e não pra um amor. Eu nunca tive medo de você ou do seu amor, eu tive medo do seu medo, e eu tentei acolhê-lo para que ficasse aqui perto, onde eu pudesse vê-lo. Mas ele te tomou e eu nem vi, ele escorreu por entre meus dedos e minha mania de manter tudo sob controle, e eu nem vi.
Agora ele está aí, instaurado, consumindo tudo que pro lado de cá é preciosidade. Deve estar mesmo muito difícil estar sozinha deixando os sentimentos e os pensamentos em sua cabeça como num pote de conserva. Os detalhes, dessa vez, eu vou guardar pra mim e a raiva eu vou dissecar, guardar embaixo da minha cama até que eu possa me desfazer dela. Não vou parar no nosso tempo, em alguma dimensão você compreendeu meus traumas e me acolheu em seus braços, em alguma outra eu os superei até que você não tivesse que acolhê-los, mas aqui, nessa, meus traumas te acuaram e eu fiquei sozinha com toda a sujeira a minha volta, sem entendimento, sem acolhimento. E em alguma fenda temporal entre o agora e o daqui a pouco eu pude compreender que eles não são seus, são meus e que meu dever é recolher meus cacos e cuidar deles como deve ser.
Não espero mais resposta porque já não as tive por tempo demais, mas ainda me indigno quando me permito, ainda mantenho a testa franzida e os lábios apertados quando sinto raiva. São doze dias, e apesar de não gostar de saber as horas quando estou contigo, eu gosto de contabilizá-las quando não estou, até o dia em que não estar será morno e olhar o relógio parecerá um apanhado de número enfileirados. Dessa vez não há quem diga que meu processo está errado, pelo simples fato de não haver pessoas e isso é tão duramente amoroso, quando se percebe que a solidão não escolhida pode transformar-se em solitude, ainda que por poucos instantes. Desisti de manter a estabilidade como ponto de referência, dói demais, porque eu sei que ainda não sei ser quieta e que gritar por vezes me acalma, só não lacero meu corpo mais, por hora, e talvez pelas próxima muitas.
Minha mãe tem medo quando me vê triste assim, eu tenho medo quando me vejo triste assim, e a escova de dentes laranja já foi pro lixo, e o lixo já foi pra fora do apartamento, pouco a pouco vou me desfazendo e deixando numa gavetinha só que eu sei que não vai doer se ficar. Mas meus olhos doem, minhas bochechas doem, meus braços ainda doem, e a cabeça eu já nem sinto.
Quando foi que eu desisti de me manter segura e me abri assim? Porque foi que eu achei que estaríamos seguras em algum lugar?
" Também achei que o amor tinha muito menos mutação que um plátano, e agora fico aqui sentada na fazendo assistindo a mudança das estações. Alguém fez disso uma enorme ilusão, e olha que nem sei o que é a morte, my bad or my luck"
Nenhum comentário:
Postar um comentário