Eu sempre sento no mesmo lugar no metrô, fico na janela vendo o concreto passar numa velocidade que até parece que tá tudo parado. Acho que isso diz muito sobre minha própria cabeça.
Me disseram que eu tenho que ser mais positiva, pensar no que a vida tem de bom, essa coisa toda que ensinam nos livros de auto ajuda. Quem sabe não seja esse o clichê que me falta?
Eu sinto raiva, muito mais vezes do que eu admito sentir. É que o sorriso no rosto parece mais admissível no caminhar do dia a dia. Eu sinto o dia a dia me carregando arrastada no asfalto, e numa confusão indescritível muitas vezes parece que estou de trás pra frente.
Eu sinto raiva da instabilidade que me toma como uma tormenta, da sensação de completude que d'uma hora pra outra me arranca as viceras, eu sinto raiva de saber que não há como fugir de mim como insiste a canção que toca em looping nos meus fones de ouvido. Eu queria partir daqui mas me parece mais cômodo colocar a responsabilidade no meu mapa astral tão cheio de terra, que me aterra, melhor seria ser ar como diz meu signo solar.
Sinto hoje que preciso falar mais de mim, e talvez na hora do jantar me tome por completo os pensamentos intrusivos de que ela é o pensamento inevitável.
Não quero chegar a conclusão de que não há nada que eu possa fazer comigo mesma, porque no final das contas, não há nada que eu possa fazer com a ideia de que não há nada a fazer. Tudo que eu fiz no último ano foi achar algum meio de me anestesiar, mesmo que com a contradição de estar sempre tão intensa no mundo. Meu grande amor insiste em ser grande mesmo nas palavras que detesto ouvir. Eu detesto que ela tenha razão quando fala das cartas de tarot, quando fala sobre ser pra dentro e não pra fora, sobre morrer pra nascer de novo, sobre a subjetividade do estar enquanto a concretude da metrópole me engessa.
Ainda acho que somos pássaros de asas quebradas, todas somos, as marginais, as inquietas, e nossos amores são castrados todas as manhãs quando acordamos. A cada esquina alguém vai me olhar como escória, e tudo que carrego comigo é a certeza de que faço do meu mundo um mundo mais inteiro por amar mulheres, mas carrego também minha guia de proteção e hora ou outra uma garrafa de vidro quebrada. Eu nunca sei se vou voltar pra casa ou como. Não vou negar, num apêndice desse que seria um escrito só meu: eu gostaria de voltar pra casa contigo e saber que vencemos mais um dia.
Acho que carrego muita coisa e preciso deixar um pouco dessa bagagem pra trás, sentir os ombros mais leves e os braços mais fortes.
Se o mundo parece esquecer... Então eu esquecerei também. E se não sei, não há nada que me impeça de aprender.
terça-feira, 14 de março de 2017
Not for her
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