a forma como o tempo se desfaz e se refaz me intriga
ele pode se retorcer ou nos consertar, tudo ali
olho para você e penso nas manhãs de outono
aquele sol que é arrebentado pelo gelado
eu gosto da sua rua e até já deitei nela no meio da madrugada
você estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe
o real me parece um pedaço do tempo que não existe
busco minha vida inteira a realidade nua e crua
aprendi que é mais esperto te ver nua ao meu lado
teu corpo me prendendo sem que ao menos eu o toque
algumas coisas são inexplicáveis, ainda bem...
ontem dançamos no piso frio da cozinha
e eu me senti aquecendo, algo que vinha do ventre
a solidão dá medo quando percebo que é hora de partir
sinto o seu coração acelerando pouco a pouco
em doses homeopáticas e ganhando o mundo
não há nada que fevereiro não cure e eu posso esperar
mas se você ficar podemos dançar no piso frio da cozinha
andamos juntas distraidamente do mundo oxigenado
ainda que eu não durma a noite inteira e sinta dor
eu me refaço na atemporalidade de te ver acordar
e ainda vou aprender a andar de bicicleta
que aí eu atravesso a cidade, ou talvez um quarteirão
só pra te convidar pra dançar, e se for demais pra você
quem sabe pode ser só, e tanto, pra entrar num abraço balançado
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