sexta-feira, 12 de maio de 2017

7 aos 27

Se aguenta só mais um pouco nesse mundo, eu digo pra mim mesma todo santo dia. Se aguenta só mais algumas horas que logo acalma o peito. E o peito nada faz além de se contorcer numa repetição, como as fitas que rebobinavamos na minha infância.
Eu penso em mim pequenina e eu nunca me vi assim como me vejo hoje, em fragmentos.
Todo tempo alguém me diz que vai passar, e todas as manhãs eu acordo com os olhos marejados. Não há nada de  mórbido nisso, é melancólica em estado sólido.
Esses dias a febre me pegou de madrugada, acordei com a roupa encharcado, queira dormir assim mesmo, mas era gelado e o gelado no fogareiro da febre é dor em constância insuportável.
Vejo minha pele sendo rasgada, como uma boneca de pano que a gente abre pra por espuma dentro, pra ela ficar mais bonita e cheia de vida, na tua imensa contradição. Mas se rasgo minha pele, nada entra, só sai. E eu escorro, escorro, escorro, até que a dor termine.
Mas aguento tá só mais um dia, eu digo a mim mesma, que a gente ainda tem que descobrir o lado de lá, e na primeira descoberta, a gente vai: a mulher de 27 de mãos dadas a menina de 7.

Nenhum comentário:

Postar um comentário