quinta-feira, 4 de maio de 2017

Doa a quem doer (Ainda que a você)

Nao tenha tempo pra pensar em nós, meu bem.
Distraia a cabeça com qualquer coisa, anda por aí, ande rápido, o mais rápido que puder. Não pare, vai fazer teatro, estudar música, vai pro samba. Mas por favor não pense em nós. Pensa nas coisas todas que você tem que construir, pensa na reputação que você tem a zelar, no silêncio que te acolhe quando alguém te olha em adoração distorcida pela personificação, ou quando falarem pelos cantos, num cinismo velado, sobre as nossas mazelas que hoje, em santa paz, não te acompanham mais. Amém!
Deixa o que doer por aqui, eu vou pensar em nós, eu vou pensar, sentir e vomitar nosso amor, que é pra me saturar de você, que é pra ter overdose de tanto remoer nossos dias, e vou escrever sobre você, sobre a raiva e o amor. Vai doer pra caralho cada lágrima, numa corrosão imprópria pra qualquer corpo que corre sangue quente.
Mas você, vê se esquece a gente, endurece o coração, levanta barricada. E se falar comigo em algum momento, por alguma necessidade momentânea, seja fria como você tão bem sabe ser; endurecer no amor é quase uma arte, e seu mapa não nega, você nasceu pra ser artista. Então o faça, doa a quem doer, ainda que seja a você mesma.

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